Viver o luto – Quando é demais?

Marta Flores

Psicóloga Clínica

Sobre a autora

“Força! Tens de seguir em frente! A vida continua!”- quantas vezes já dissemos ou ouvimos estas expressões ao longo da nossa vida quando alguém perdeu ou nós mesmos perdemos algo ou alguém significativo? Quando usamos estas expressões é importante percebermos que cada um de nós tem um ritmo diferente e uma forma diferente de reagir a uma perda, seja ela de que natureza for. 

Não há uma fórmula mágica que nos leve para o outro lado da ponte sem passarmos por ela, isto é, é preciso viver a perda. Precisamos sentir o que perdemos. Precisamos chorar o que não vamos voltar a ter. Precisamos que doa. Precisamos entender onde dói. 

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Passamos por um processo de luto em que mais parece que apenas conseguimos garantir os serviços mínimos de funcionamento do nosso corpo ou então onde mantemos o ritmo, mas sentimos outras emoções que nos podem afetar. A nossa reação a uma perda não se fica a dever apenas aos nossos traços de personalidade, depende também de experiências prévias que tenhamos tido, depende da perceção que temos das pessoas que nos apoiam, depende da relação que tínhamos com a pessoa que morreu, depende do significado que tinha para nós aquilo que perdemos…

Nem todas as perdas estão relacionadas com a morte de alguém, podemos perder um emprego, podemos perder a nossa casa, podemos perder uma segurança económica, perder capacidades cognitivas com o envelhecimento, perder um membro do corpo, perder mobilidade devido a uma doença…e em todas elas passamos por um processo de luto, mais ou menos longo. 

Mas, por vezes, a necessidade de reajustar o que somos depois de uma perda não é tarefa fácil. Encontrarmos um novo rumo e (re)descobrirmos quem nós podemos ser depois do desaparecimento daquele elemento significativo pode ser extremamente difícil. Faz parte do processo. É considerado normal por um certo período, por uma certa intensidade e ou por um certo condicionamento do dia-a-dia.

Então quando é que este processo passa a ser não adaptativo?

Quando colocamos a nossa saúde mental em risco. Quando sentimos que a nossa energia parece estar sempre esgotada, quando ficamos irritados com facilidade, quando conseguimos reconhecer que as nossas emoções mais parecem uma montanha russa que não controlamos, quando começamos a evitar sítios com muitos barulhos e ou com muitas pessoas, quando o estar com o outro se torna insustentável porque não compreende a nossa dor, quando nos sentimos ansiosos com falta de ar, com suores frios que aparecem repentinamente, com a sensação que vamos perder o controlo da nossa cabeça e do nosso corpo a qualquer momento. 

Se estivermos a atravessar um momento de perda e sentirmos uma ou mais destes eventos que descrevi de forma descontrolada, é altura de procurar alguém especializado que nos ajude neste processo. Que atravesse a ponte connosco e nos ajude a traçar um novo percurso com sentido!

Se está a ultrapassar por uma fase de perda com mais desafios que aqueles que achou que iria sentir, fale connosco, podemos ajudar a atravessar esta ponte juntos!

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