Embora os nomes sejam fictícios as pessoas e os eventos nestas duas histórias são verídicos.
Joana
Na minha infância vi de perto o poder da psicologia num processo de luto.
Joana era uma menina de 11 anos que tinha uma excelente relação com o pai. Já com a mãe a relação era mais difícil.
Acontece que prematuramente o pai da Joana faleceu e foi como se lhe tirassem o chão debaixo dos pés. Deu-se origem a uma situação muito difícil pois aquela menina viu-se confrontada com uma perda tremendamente dolorosa e ao mesmo tempo sem poder recorrer a quem era o seu porto seguro, a pessoa que melhor a compreendia. Nesta encruzilhada acabou por chegar até um psicólogo.
Com o apoio do terapeuta, a Joana conseguiu encontrar maneiras saudáveis de lidar com a dor e “seguir em frente”. A relação com a sua mãe também melhorou bastante. Mãe e filha, que antes se focavam nos pontos de divergência, passaram a encontra maneiras de se apoiarem uma à outra.
Testemunhar esta história ensinou-me que podemos superar momentos de grande dor e que as relações difíceis podem ser reabilitadas e transformar-se em boas relações para ambas as partes. Uma vez mais observei o poder do psicólogo para proporcionar conforto e orientação em momentos de grande tristeza e desânimo.
Lourenço
Conheci o Lourenço na minha infância, um severo caso de mau comportamento.
Conhecido como “menino difícil”, o Lourenço faltava à escola e, quando não faltava, era para perturbar aulas: interrompia os professores com comentários sarcásticos e desagradáveis, gozava com os colegas, partia-lhes coisas, batia-lhes, uma situação muito complicada.
Os pais não sabiam o que fazer no meio de uma chuva de queixas dos professores. Desesperados, acabaram por decidir experimentar algo que, na altura, não era muito comum em Portugal: enviar o Lourenço ao psicólogo.
A transformação começou devagarinho, a interação com os colegas foi melhorando assim como a assiduidade. Algumas pessoas ainda estavam céticas mas quando o Lourenço começou a ser positivamente participativo nas aulas já ninguém podia negar a mudança. Posso dizer que com o passar do tempo acabou por se revelar um excelente aluno.
Mais tarde compreendi qual era o cerne do problema: aquele menino não tinha estabilidade no seu contexto familiar. Os pais tinham constantes discussões, ameaçavam separar-se, e o Lourenço assistia a tudo. Os comportamentos inadequados eram uma forma de expressar essas vivências.
Quantas crianças não vivem situações em que são injustamente julgadas, em que não recebem a ajuda necessária, porque os adultos confundem os sintomas com o problema? Felizmente este não foi o caso do Lourenço que aprendeu a lidar com as suas emoções e a reconstruir a sua vida.
Conhecer o Lourenço e perceber o papel crucial do psicólogo na sua recuperação inspirou-me profundamente.
Foi com estas histórias que o sonho de ser psicóloga floresceu em mim e à medida que fui tendo contacto com esta área, primeiro na disciplina de psicologia no secundário e depois na universidade, foi-se fortalecendo a paixão por esta profissão tão bonita. Os anos passaram mas eu continuo motivada por ajudar os outros a lidarem com os desafios da vida e a compreenderem-se a si mesmos.