Divórcio: o que acontece quando fala mal do seu ex-companheiro à frente dos seus filhos.

Dra. Sophie Fachada

Psicóloga Clínica

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Em caso de crise familiar é comum o conflito do casal se estender para os filhos, podendo chegar mesmo a chamada alienação parental, que ocorre quando um, ou ambos os progenitores, avós ou outra pessoa com responsabilidade legal da criança/jovem, manipula a relação entre a criança e o outro progenitor, geralmente com o objetivo de prejudicar ou destruir o vínculo afetivo entre a criança e outro progenitor. Essa manipulação pode envolver difamação, desinformação e alienação emocional, levando a criança a rejeitar ou a ter uma relação prejudicada com o progenitor não alienador.

Será importante referir que por vezes o alienador pode fazê-lo de forma quase inconsciente e até assumir o papel de vitimização que leva o filho a ver o outro progenitor como o principal culpado e até como agressor. É inclusivamente comum ouvir um alienador referir que só está a agir de acordo com o principal e único interesse o da criança.

Este síndrome está cada vez mais presente no nosso dia-a-dia, e a tornar-se um problema social, podendo ter impactos significativos no desenvolvimento emocional, psicológico e social das crianças e jovens envolvidos. Com base em estudos científicos na área da psicologia e psiquiatria, podemos destacar algumas consequências associadas à alienação parental:

  1. Problemas emocionais: Crianças e jovens submetidos à alienação parental frequentemente experimentam uma ampla gama de problemas emocionais, incluindo ansiedade, depressão, raiva, confusão emocional e baixa autoestima. A manipulação emocional e a exposição a conflitos entre os pais podem levar a sentimentos de desamparo e sentimentos de culpa decorrentes da pressão para rejeitar um dos pais.

  2. Dificuldades de relacionamento: A alienação parental pode prejudicar as habilidades sociais e de relacionamento das crianças e jovens, tornando-os mais propensos a ter dificuldades em estabelecer e manter relacionamentos saudáveis no futuro. Eles podem ter dificuldade em confiar nos outros, em expressar as suas emoções de forma adequada e em estabelecer vínculos afetivos seguros

  3. Problemas comportamentais: Podem exibir comportamentos desafiadores, agressivos ou de oposição como resultado do conflito interno causado pela alienação parental e pela lealdade dividida.

  4. Problemas académicos: A instabilidade emocional e a distração causada pela exposição à alienação parental pode interferir no desempenho académico das crianças e jovens, prejudicando a sua concentração, motivação e capacidade de aprendizagem. Eles podem ter dificuldade em se concentrar na escola, em completar tarefas escolares e em alcançar o seu pleno potencial académico.

  5. Risco aumentado de problemas de saúde mental: Estudos sugerem que crianças e jovens submetidos à alienação parental têm um maior risco de desenvolver problemas de saúde mental ao longo da vida, incluindo perturbações de humor, de ansiedade, de depressão, perturbação de personalidade e até mesmo pensamentos suicidas.

  6. Lealdade dividida e conflito de lealdade: As crianças e jovens envolvidos em situações de alienação parental muitas vezes sentem-se pressionados a tomar partido em relação a um dos pais, o que pode criar um conflito de lealdade significativo. Eles podem se sentir obrigados a escolher entre os pais, o que pode causar angústia emocional e sentimentos de culpa.
  7. Impacto na identidade e autoconceito: A manipulação parental pode afetar a forma como as crianças e jovens se percebem e constroem a sua identidade. Podem experimentar uma sensação de perda de identidade, confusão sobre quem são e conflitos internos em relação às suas origens familiares.

Como consequência, o filho influenciado ou alienado, pode apresentar alguns sinais que deverão ser sujeitos a uma avaliação pormenorizada, nomeadamente, alterações no sono e/ou alimentação, quebra do rendimento escolar; sentimentos constantes de raiva, tristeza, ódio contra o outro genitor e sua família; se recusar a ter qualquer comunicação com o outro genitor e familiares; guardar sentimentos negativos, exagerados ou não verdadeiros com relação ao outro genitor, podendo, ainda, apresentar distúrbios de natureza psicológica, tais como depressão, falta de atenção, ansiedade, apresentar baixa autoestima. 

Em resumo, a alienação parental pode ter consequências profundas e duradouras para o bem-estar das crianças e jovens envolvidos, afetando não apenas sua saúde emocional e psicológica, mas também para o seu desenvolvimento global e a sua qualidade de vida futura. Estas consequências destacam a importância de identificar e abordar a alienação parental de forma eficaz, visando proteger o bem-estar emocional e psicológico das crianças envolvidas. Intervenções precoces e apoio psicológico especializado para as crianças e jovens afetados (e sempre que possível para ambos os progenitores), bem como medidas legais para coibir a alienação parental, são essenciais para mitigar esses impactos negativos e promover um desenvolvimento saudável.