Sugestão de leitura: “Como promover as competências sociais e emocionais das crianças”

Catarina Vieira Assis

Psicóloga do Desenvolvimento

Sobre a autora

Gosta de ler? Quer melhorar a comunicação com o(a) seu(sua) filho(a)? É professor(a) e quer melhorar a comunicação com os(as) seus(suas) alunos(as)? Quer recorrer a estratégias positivas para comunicar com uma criança ou adolescente e não sabe por onde começar? Então recomendo a leitura do livro “Como promover as competências sociais e emocionais das crianças”, de Carolyn Webster Stratton.

Este é um livro que apresenta várias diretrizes para comunicar com as crianças. Encara a comunicação como uma ferramenta poderosa no desenvolvimento da autoestima, da comunicação e da resolução de conflitos das crianças. Ajuda também na construção da relação positiva com as mesmas.

Embora o livro se proponha a promover as competências socioemocionais das crianças, tal como o título sugere, na minha opinião, as diretrizes referidas também podem ser utilizadas com adolescentes e até mesmo com os adultos. Acredito que todos fiquem a beneficiar com a utilização de uma comunicação mais assertiva, mais empática, mais direcionada e mais positiva. 

Considero fundamental realçar a importância da comunicação: como estruturamos as frases que dizemos, a seleção de certas palavras em detrimento de outras, a diminuição da palavra “não”, entre outros fatores. Vivemos em sociedade e ao longo da nossa vida vamos encontrando diversas pessoas com diferentes personalidades. Podemos sentir que lidar com a pessoa X pode ser mais fácil do que lidar com a pessoa Y. Apesar disso, pois é natural que estes sentimentos surjam, se nos preocuparmos em comunicar seguindo determinadas diretrizes, a comunicação e, consequentemente, a relação com o outro (independentemente da faixa etária), torna-se mais eficaz. 

É importante lembrar que os adultos no geral são os modelos das crianças e dos adolescentes. Se enquanto pais, avós, irmãos, educadores, entre outros, formos os primeiros a utilizar uma maneira de comunicar mais eficaz, as crianças/adolescentes vão aprender connosco e transportarão para a comunicação com os seus pares.

Fontes:Stratton, C. (2017). Como Promover as Competências Sociais e Emocionais das Crianças. Psiquilibrios.

O meu filho foi acusado de bullying na escola. Como devo reagir?

Catarina Vieira Assis

Psicóloga Educacional

Sobre a autora

Para falar sobre o bullying, considero importante começar com uma breve explicação sobre este conceito. Introduzido por Dan Olweus (psicólogo), o bullying remete para um conjunto de  comportamentos agressivos, intencionais e repetitivos. São levados a cabo por um ou mais alunos (os bullies) contra outro ou outros (vítimas). Os motivos são vários, entre os quais melhores notas, excesso de peso, uso de óculos ou aparelho nos dentes, estatura mais baixa/mais alta, ter sardas, vestir-se ou pertencer a uma etnia diferente. Em alguns casos pode não haver algum motivo (1, 2, 3). De seguida, apresento alguns exemplos destes comportamentos (1, 2, 3):

  • bater;
  • empurrar;
  • pontapear;
  • roubar dinheiro;
  • insultar;
  • ridicularizar;
  • inventar mentiras;
  • espalhar informação falsa, incomodar e/ou insultar através de SMS, MMS, e-mail, websites, chats e redes sociais;
  • contar (ou ameaçar contar) a outras pessoas, contra a vontade da vítima, segredos ou informações sobre a sua sexualidade.

Estes comportamentos podem causar na vítima medo, intimidação, mal-estar, tristeza, desconforto, vergonha e insegurança (1 e 3), ao ponto de se sentirem doentes, sem vontade de ir ao intervalo ou até mesmo à escola (2). E podem acontecer não só dentro da escola, como também fora, como por exemplo no caminho para casa, nos transportes públicos, assim como na internet (1 e 2). 

Os bullies consideram ter um poder superior ou ser mais fortes do que as vítimas, por exemplo por terem mais força física ou acesso a alguma informação constrangedora, utilizando esse poder para controlar e prejudicar a vítima (1, 2 e 3).

Não há dúvida que, enquanto familiar, colega, amigo, auxiliar ou professor (ou qualquer outro profissional), devamos estar atentos aos sinais de alerta dos alunos que podem ser vítimas de bullying (e.g. alterações no rendimento escolar, sintomatologia psicossomática, fobia escolar e depressão), pois estes precisam de ajuda (3). Não obstante, também os alunos bullies precisam de ajuda. E é no sentido de contribuir para esta consciencialização que escrevo este texto. 

Podem ser vários os motivos que levam um aluno a fazer bullying: querer ser popular, conseguir o que quer, sentir-se importante e poderoso ou reproduzir o que aprende com os comportamentos dos modelos que tem em casa (2).  

E como deve reagir se o seu filho for acusado de fazer bullying

É importante que mantenha a calma, lembrando-se que os filhos têm como modelo os pais/cuidadores informais e que por isso precisam de aprender a regular as emoções em momentos de maior stress. É essencial que oiça a pessoa que fez a acusação, assim como ouvir o seu filho. Dialogue com ele no sentido de perceber o que o motivou a adotar o comportamento de bully, sem o julgar. Por um lado, pode mostrar quais os efeitos negativos que este tipo de comportamento poderá ter nas vítimas, e por outro lado, demonstrar quais os resultados que o mesmo poderá acarretar para o próprio (e.g. ficar com poucos ou nenhum amigo). Consequentemente, podem refletir em conjunto sobre maneiras de redenção, incentivando a colocá-las em prática. Quando as mesmas se verificarem, é importante reforçá-las.

Importa referir que estas são só algumas sugestões. Cada criança/adolescente é uma criança/adolescente, sendo que as situações, os contextos e as dinâmicas familiares são distintas e é fulcral ter estes aspetos em conta. Por este motivo, estas sugestões podem resultar em alguns casos, o que não significa que resultem em todos os casos. Podem resultar numa determinada fase, mas revelarem-se ineficazes em casos mais graves. Deste modo, é importante procurar ajuda especializada, não só direcionada para a criança/adolescente que tem comportamentos bullies, como também para os pais/cuidadores informais que sintam alguma dificuldade em lidar e/ou em gerir estes comportamentos. 

Para terminar, quero lembrar os pais/cuidadores informais que, desde tenra idade, é fundamental que sejam colocados limites, validem os sentimentos e as emoções das crianças/adolescentes, os ajudem a regulá-los e participem de forma ativa no percurso escolar destes. É ainda importante que articulem com os professores titulares ou diretores de turma, de modo a estarem a par dos comportamentos das crianças/adolescentes na escola. Esta proximidade não significa que evite os comportamentos bullies, mas acredito que possa contribuir para a diminuição da gravidade e para o impacto dos mesmos, assim como para a promoção de comportamentos adequados.  

Fontes:

1Bullying. (s.d.). APAV para Jovens. Consultado a 29 de março de 2023. https://www.apavparajovens.pt/pt/go/o-que-e2

2Ferreira, L., Lourenço, J., Martins, S., Ramos, C., Pereira, A. M., Rodrigues, B., Pereira, E., & Martins, M. R. (s.d.). Bullying? Escola Saudávelmente. Consultado a 29 de março de 2023. https://escolasaudavelmente.pt/alunos/criancas/a-minha-escola/bullying 

3Paias, T. (2017). Bullying, subtipo de violência escolar. Portal Bullying. Consultado a 29 de março de 2023. https://www.portalbullying.com.pt/blog/artigos-investigacao/o-que-e-o-bullying/


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