Natal (des)encantado

Dra. Marta Flores

Psicóloga Clínica

Página da autora

Se lhe falar em prendas, luzes, decoração, música, chocolate quente, união, alegria…automaticamente lembra-se da época de Natal? Sim? E se lhe falar em tristeza, ansiedade, depressão, isolamento e solidão. Também associa estas sensações à época de Natal?

Em dezembro, somos arrebatados e levados para um lugar mágico onde parece que nada de mal nos pode acontecer, onde os problemas ficam longe e onde somos obrigados a ser felizes o tempo todo. As luzes que piscam mantêm-nos atentos a elas, as músicas que ecoam nas ruas transmitem alegria, o cheiro a lareira traz-nos recordações que nos aquecem o coração, a procura do pinheiro perfeito e das decorações perfeitas são o nosso foco, enfim, quase que colocamnos em pausa a nossa vida atribulada e complexa e entramos num ritmo diferente. Contudo, o Natal pode trazer emoções contraditórias.

Podemos sentir a falta de um ente querido quando notamos um lugar vazio à mesa. Podemos sentir-nos sozinhos por estar longe da família. Podemos sentir ansiedade e stress quando não encontramos o presente perfeito. Podemos sentir-nos frustrados por ter gasto mais do que aquilo que nos era possível. Podemos sentir raiva quando sabemos que não temos a família perfeita que parece existir nos anúncios televisivos. Podemos sentir que falhámos se terminamos o ano com um divórcio ou uma separação.

É importante permitirmos a nós mesmos sentir estas sensações e emoções menos boas, mesmo numa altura em que parece que estas têm de ser camufladas por não ficarem bem no quadro natalicio. Por sua vez, a aproximação do final do ano pode também trazer consigo um impacto negativo na nossa saúde mental e pode aumentar estas sensações e emoções.

Colocamos tudo em perspetiva e muitas vezes percebemos que não atingimos os objetivos que tínhamos delineados, não estamos onde desejávamos estar, parece que não saímos do lugar, mesmo quando os anos passam.

Proponho que este ano, em vez de nos punirmos por tudo aquilo que ainda nos falta alcançar, tentemos identificar as pequenas vitórias e sucessos que fomos vivendo ao longo do ano.

Partilho com vocês algumas dicas para que possam viver esta época com mais saúde mental:

– fazer uma lista de pequenas coisas que me fizeram feliz este ano;

– ajustar as expetativas: não somos perfeitos, não temos a família perfeita;- tentar sempre dar o nosso melhor é suficiente;

– se se sentir triste ou ansioso fale com um amigo, combine um encontro com alguém que não vê há muito tempo;

– se perdeu um ente querido recentemente ou recorda com saudade alguém que já não está presente procure alguém com quem partilhar como se sente;

– procure estar com amigos e familiares;

– não faça comparações da sua vida com a vida dos outros;

– não se deixe levar pelo excessivo consumismo, compre apenas o que precisa.

Se estas sensações ou emoções negativas não aliviarem depois desta época, procurar ajuda especializada como um psicólogo ou psicóloga pode ajudar!

Vamos tentar relaxar um bocadinho, avizinha-se um novo ano para continuar a tentar ser melhor e fazer melhor!